27.1.11

Eu não faria...

Depois de tanto pensar em situações que me fizeram mal de alguma forma, eu descobri a canalização de pensamento que instantaneamente me acalma.
Em primeiro lugar eu acho que o que me acontece vem de alguma forma de uma permissão que eu, sem prestar atenção, concedi. E acabo achando que se tive aquilo, foi porque mereci, por mais que não ache o porquê.
Às vezes, confesso, isso não funciona bem. E eu entristeço.
Como em algum momento desse blog eu já disse, a tristeza é mais complicada e mais difícil de lidar e assumir do que a raiva, o ódio. A tristeza bate de frente com a alegria, me tira a melhor sensação, a de sorrir. O ódio passa depois que você grita. A tristeza vem sobre a importância. Se algo ou alguém não me fosse importante, não teria o poder de me fazer triste.
Assim sendo, observando certos comportamento de pessoas próximas por quem sinto qualquer espécie de amor, o que vem de lá e que me fere, inevitavelmente me entristece, me murcha. Mais uma vez não tiro minha culpa, muito menos digo que as pessoas não são passíveis a erro. São sim, inclusive eu. Mas existem os egoístas, aqueles que não fazem questão de olhar pro lado porque o mundo gira em torno dele. Ou simplesmente falam bobagens para levantar a sua estima defasada e acabam sendo levianos com as palavras e com as pessoas que estão ao lado.
Gosto de relações fortes e verdadeiras. Para cada uma, um amor diferente e um limite diferente. Minhas relações 'sem barreiras' são poucas mas suficientes pra me deixar tranquila e não me dar a chance de pensar em perder a fé nas pessoas. Falho também, mas me esforço pra não ser desleal com quem eu gosto e principalmente com quem gosta de mim. Às vezes estou longe, sem paciência, querendo ficar só, ou mesmo vivendo qualquer momento que não comporte dar a mesma atenção que normalmente distribuo entre colegas, família, paquera, amigos, vizinhos... mas tento entender o lado do outro, também quero que entendam o meu, é fato.Quando se estabelece uma relação, seja ela qual for, a primeira coisa que se faz é ceder poderes. Quando se gosta de alguém e se sente o retorno, você se torna responsável por isso (sim, bem 'pequeno príncipe' mesmo). E nada pode ser mais cruel, escroto e desumano do que alguém usar contra você o que você tem de melhor: seu sentimento verdadeiro. Não é porque se tem certeza do que o outro sente, que se pode ser irresponsável com o ele. Isso me desarma, me choca.
Já me senti sacaneada sim, e pretensiosamente achei que não era merecedora daquilo. Foi então que descobri o tal pensamento que me acalma e me faz sorrir em frente ao espelho: EU NÃO FARIA ISSO!
Daí vem o mundo e me acha uma pessoa forte. Forte é o caráleo. Sofro pra caramba, fico na merda, quero sumir, odeio acordar quando tô assim. Mas tenho que admitir: isso dura pouco. Passa relativamente rápido porque eu levanto (mesmo na obrigação) e olho pro espelho dizendo: que bom que foi comigo e não o contrário. Eu supero. E me orgulho em saber que eu não faria isso dessa forma. Assim reprimo os meus dramas (não que tenha obrigação de fazê-lo), mas me sinto melhor. Choro quando sentir vontade, mas prefiro não desperdiçar minhas lágrimas. E peço aos Céus que nunca me deixe agir dessa forma com ninguém, que me dê luz no momento que eu não perceber que estou fazendo alguém sofrer com qualquer atitude minha inconsciente ou leviana e que se mesmo assim eu atingir, que essa pessoa me veja com humana, normal, que erra e faz besteira... e me perdoe. A vida é linda demais para perder tempo guardando o que não nos faz bem. Então continuo pensando e me enchendo de orgulho por saber que não agiria de tal forma (isso me conforta muuuito) e qualquer desculpa que antes era fundamental, se torna desnecessária. Deixa pra lá e vai sorrir. Eu não gosto de desistir das pessoas, isso me faz sofrer, mas do meu lado eu prefiro que fique quem queira ficar. E também não sou saco de pancadas pra que neguinho cresça e amadureça me machucando. Gosto de ser feliz.
A vida continua lá fora e eu não nasci pra vê-la passar com meus braços cruzados na janela.

5 comentários:

Mary disse...

comentário antes de ler o post!!!

Adoro quando você escreve aqui!

... disse...

Lendo seu texto, me lembrei de um fragmento do genial Edson Marques sobre o trecho transcrito do eterno "Pequeno Príncipe"...

Um beijo!

" Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. "

Dizem que essa frase é de Saint Exupery — e que está n´O Pequeno Príncipe. Mas eu não consegui encontrá-la no original em francês. É uma frase com sonoridade belíssima em português, e impressiona por isso. Mas tem um sentido muito questionável. A palavra-chave para seu entendimento é "cativas". Se tomarmos o verbo "cativar" significando "conquistar a simpatia" ou seduzir, a frase se torna simplesmente ridícula: claro que não devemos nos responsabilizar pelo julgamento que o outro faz de nós. Menos ainda se esse eventual julgamento for meramente estético.

Contudo, se tomarmos o verbo cativar pelo sentido de "prender" (e daí cativeiro, prisão...), a frase começa a se sustentar: Se prendo alguém, devo cuidar desse alguém — e garantir-lhe os direitos básicos. Mas, ao prendê-lo, contraditoriamente, já começo retirando-lhe o mais básico dos direitos, que é o inalienável direito de ser livre. Logo, essa frase, ainda que sonora e bonita — é apenas um impressionante amontoado de absurdos. Uma insensatez — que é repetida como se tivesse algum sentido...

Como se vê, é uma frase extremamente bobinha.



* Cativar é estabelecer laços — diz a Raposa ao Príncipe.
Porém, no meu caso, prefiro laços desatáveis e amorosos.
— Nó cego, não! — digo eu.
E a Raposa, insistente, ainda diz: — Cativa-me!
Fosse eu a Raposa, diria ao Pequeno Príncipe: — Liberta-me!

Pois, quando me cativas, me roubas o Mundo. E quando me libertas, me devolves o Mundo.

(Texto de Edson Marques)

Nanda disse...

Eu compreendo a forma de analisar a frase, mas acho que em quase tudo que se lê, é possível achar milhões de interpretações, boas e ruins. Eu fico com as simples. Acredito que pelo contexto do livro, ele tentou passar a idéia mais simples de que, quando se busca e se ganha o afeto de uma pessoa, é preciso ser resonsável por esse sentimento e perceber o quanto ele é importante quando dedicado.
Edson Marques, como vc citou, fez uma analise criteriosa para uma coisa simples, onde cativar significa amor, ganhar o carinho. Ao levar ao pé da letra, perde-se um pouco o contexto do livro, e eu acho desnecessario, mas entendo.
enfim, nao pensei muito sobre, mas acho bem válido sem comentario, mas... quem és tu?
:D

... disse...

"O Haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens".

(Vinicius de Moraes)

carola disse...

Esse texto lembrou-me a próxima tatuagem que quero fazer. Quero escrever Amor fati em algum lugar como um lembrete para mim. Tipo uma pesca eterna.
Num resumo bem meu, amor fati significa ter gratidão por tudo que te acontece, bom ou ruim.
Isso é bastante significativo em minha vida, me ajuda bastante a passar pelas experiências que me são necessárias.
Sobre o seu "eu não faria", ainda não tinha pensado dessa forma, mas adorei! É simples e lindo.